Quando a cirurgia de vitrectomia está indicada?

A vitrectomia é uma das cirurgias mais importantes e versáteis da oftalmologia moderna. Desenvolvida há algumas décadas, ela revolucionou o tratamento de várias doenças oculares, principalmente da retina. Mas afinal, em quais situações essa cirurgia é realmente necessária? Se você ou alguém próximo recebeu essa indicação, compreender os motivos e os benefícios do procedimento é essencial para enfrentar o processo com mais tranquilidade e confiança.

O que é a vitrectomia?

A vitrectomia é uma cirurgia que tem como objetivo remover o vítreo, a substância gelatinosa que preenche o interior do olho. À primeira vista, pode parecer estranho retirar essa gelatina interna. No entanto, o grande diferencial da cirurgia está no fato de que, ao remover o vítreo, o médico cria um espaço de trabalho dentro do olho, permitindo acessar a retina e outras estruturas delicadas para tratar diversas doenças que, de outra forma, poderiam levar à perda de visão.

Para isso, o cirurgião faz pequenas incisões microscópicas na região chamada pars plana, localizada cerca de 4 mm atrás da córnea. Essas incisões, tão finas quanto agulhas, permitem a introdução de instrumentos específicos:

• Iluminação, que permite visualizar o interior do olho.

• Infusão, que mantém a pressão intraocular estável durante a cirurgia.

• Vitreófago, um instrumento que “aspira” e fragmenta o vítreo.

Com esses recursos, o médico pode realizar procedimentos minuciosos como retirar membranas, tratar hemorragias ou reposicionar a retina.

Principais indicações da vitrectomia

A vitrectomia não é uma cirurgia única para todos os casos, mas sim uma técnica utilizada em diferentes doenças. A seguir, estão algumas das principais indicações:

1. Descolamento de retina

Essa é uma das situações mais comuns e graves. A retina, que funciona como o “filme fotográfico” do olho, pode se soltar da parede ocular por rupturas ou tração. A vitrectomia permite remover o vítreo que está puxando a retina, aplicar laser para selar rasgos e utilizar líquidos ou gases especiais para recolocá-la no lugar. Em muitos casos, essa técnica oferece maiores chances de sucesso do que outros métodos, como a introflexão escleral ou a retinopexia pneumática.

2. Buraco macular

O buraco macular é uma abertura que surge na região central da retina, responsável pela visão de detalhes. A vitrectomia é indicada para remover o vítreo que está tracionando a mácula e, em alguns casos, para aplicar técnicas adicionais que favorecem o fechamento do buraco.

3. Membrana epirretiniana

Trata-se de uma fina película que se forma sobre a mácula, causando distorção da visão. Durante a vitrectomia, o cirurgião remove essa membrana com instrumentos extremamente delicados, permitindo que a mácula volte a funcionar de maneira mais natural.

4. Retinopatia diabética

Pacientes com diabetes avançada podem desenvolver vasos anormais na retina, que formam cicatrizes e hemorragias. A vitrectomia permite retirar o sangue acumulado no vítreo (hemorragia vítrea), remover membranas de tração e aplicar laser diretamente sobre a retina para controlar a doença.

5. Hemorragia vítrea de outras causas

Além da diabetes, traumas ou doenças vasculares podem provocar sangramentos internos no olho. Quando o sangue não se reabsorve espontaneamente, a vitrectomia é necessária para restaurar a visão.

6. Endoftalmite

É uma infecção grave dentro do olho, geralmente após cirurgias ou traumas. A vitrectomia ajuda a remover o material infeccioso e aplicar medicamentos diretamente no local, aumentando as chances de preservação da visão.

7. Complicações da cirurgia de catarata

Em situações raras, fragmentos do cristalino podem cair para dentro do olho durante a cirurgia de catarata. A vitrectomia é indicada para remover esses fragmentos e evitar inflamações ou danos à retina.

8. Lentes intraoculares deslocadas

Em casos de deslocamento da lente implantada durante a cirurgia de catarata, a vitrectomia possibilita reposicioná-la ou substituí-la de forma segura.

A vitrectomia é sempre necessária?

É importante ressaltar que a vitrectomia não é indicada para todos os problemas da retina. Em alguns casos, tratamentos menos invasivos são suficientes, como:

• Laser retiniano para selar pequenos rasgos.

• Injeções intravítreas de medicamentos em doenças como degeneração macular ou edema macular.

• Retinopexia pneumática, onde uma bolha de gás é introduzida para tratar alguns descolamentos de retina.

• Introflexão escleral, técnica externa que pressiona a esclera (parte branca do olho) para tratar a retina descolada.

Portanto, cada caso deve ser avaliado individualmente pelo oftalmologista especialista em retina, que vai indicar a melhor opção de tratamento de acordo com a doença, sua gravidade e as características do paciente.

Como é a recuperação após a vitrectomia?

O pós-operatório depende da doença tratada, mas alguns pontos gerais incluem:

• Uso de colírios antibióticos e anti-inflamatórios.

• Cuidados com a posição da cabeça, especialmente se foi utilizado gás intraocular.

• Evitar esforços físicos nas primeiras semanas.

• Acompanhamento frequente, para verificar se a retina está colada e se não surgiram complicações como aumento da pressão ocular ou catarata secundária.

É comum que, após a vitrectomia, a catarata se desenvolva mais rapidamente em pacientes que ainda têm o cristalino natural. Isso pode exigir uma nova cirurgia no futuro.

Taxa de sucesso e riscos

A vitrectomia é considerada uma cirurgia segura e eficaz, mas, como qualquer procedimento, não é isenta de riscos. Entre os possíveis problemas estão:

• Infecção intraocular (rara, mas grave).

• Sangramento interno.

• Descolamento de retina recorrente.

• Catarata acelerada.

• Alterações temporárias de pressão intraocular.

A boa notícia é que, na maioria dos casos, os benefícios superam os riscos, especialmente quando a doença ameaça a visão de forma significativa.

Conclusão: quando pensar em vitrectomia?

A vitrectomia é indicada em uma ampla variedade de doenças oculares, desde situações graves como o descolamento de retina até complicações cirúrgicas ou infecções. Embora possa soar assustador imaginar uma cirurgia dentro do olho, trata-se de uma técnica moderna, realizada com instrumentos microscópicos e altíssima precisão.

Se o seu médico indicou a vitrectomia, é porque provavelmente ela representa a melhor chance de preservar ou recuperar sua visão. Cada paciente, porém, é único. Por isso, a decisão deve sempre ser tomada após uma conversa detalhada com o especialista, que explicará os riscos, benefícios e alternativas.

Cuidar da visão é cuidar da qualidade de vida. Por isso, se você ou alguém próximo está diante da possibilidade de realizar uma vitrectomia, não hesite em buscar todas as informações necessárias e esclarecer suas dúvidas com o oftalmologista.

Autor:

Dr. Mário César Bulla

Cremers 28120

Médico Oftalmologista - Cirurgião de Retina