Injeção intravítrea de antiangiogênico: guia completo

Tratamento com Injeções Intravítreas: Tudo o que Você Precisa Saber
As injeções intravítreas revolucionaram o tratamento de diversas doenças da retina, preservando a visão de milhões de pessoas em todo o mundo. Se você ou um familiar está prestes a iniciar esse tratamento, é fundamental entender como ele funciona, suas indicações, benefícios, possíveis efeitos colaterais e cuidados necessários para garantir o melhor resultado possível. Neste artigo, vamos explicar de forma detalhada e acessível tudo o que você precisa saber sobre as injeções intravítreas, para que possa enfrentar o tratamento com segurança e tranquilidade.
O que são as injeções intravítreas?
As injeções intravítreas são aplicações de medicamentos diretamente dentro do olho, mais especificamente no vítreo, que é uma substância gelatinosa que preenche a parte interna do olho. O objetivo é tratar doenças que afetam a retina, camada responsável pela formação da visão. Diferente de outros tratamentos, como comprimidos ou injeções na veia, a aplicação direta no olho permite que o remédio atue de forma mais eficaz e com menos efeitos colaterais sistêmicos.
Principais indicações do tratamento
As injeções intravítreas são indicadas principalmente para tratar doenças graves da retina, que podem levar à perda irreversível da visão se não forem tratadas adequadamente. Entre as principais indicações, destacam-se:
Retinopatia diabética proliferativa
Edema macular diabético
Edema macular secundário à oclusão venosa da retina
Degeneração macular relacionada à idade (forma exsudativa)
Outras doenças menos comuns, como neovascularização coroideana e inflamações oculares
Essas doenças, antes do advento das injeções intravítreas, frequentemente levavam à perda quase total da visão. Hoje, com o tratamento adequado, é possível preservar e até recuperar parte da visão em muitos casos.
Como é realizado o procedimento?
O procedimento é feito em ambiente ambulatorial, ou seja, não é necessário internação hospitalar. O paciente permanece deitado confortavelmente em uma maca. O olho é anestesiado com várias gotas de colírio anestésico, tornando o procedimento praticamente indolor. Além disso, são aplicadas gotas de iodo para desinfetar a região e minimizar o risco de infecção.
A injeção é realizada na região chamada pars plana, localizada cerca de 3 a 4 milímetros atrás da íris (parte colorida do olho). Utiliza-se uma agulha extremamente fina, que não atinge a retina nem outras estruturas delicadas do olho. O medicamento é injetado em pequena quantidade, equivalente a uma gota, diretamente no vítreo.
Após a aplicação, o paciente pode ir para casa no mesmo dia, sem necessidade de repouso prolongado ou internação.
Quais medicamentos são utilizados?
Os principais medicamentos utilizados nas injeções intravítreas são os antiangiogênicos, que bloqueiam a formação de novos vasos sanguíneos anormais na retina. Entre eles, destacam-se o ranibizumabe, bevacizumabe e aflibercepte. Em alguns casos, podem ser utilizados corticosteroides ou antibióticos, dependendo da doença a ser tratada.
A escolha do medicamento depende do diagnóstico, da gravidade da doença e da resposta individual de cada paciente. O oftalmologista irá indicar a melhor opção para o seu caso.
Por que a injeção é feita diretamente no olho?
Aplicar o medicamento diretamente no olho permite que ele atue de forma mais concentrada e eficaz na retina, sem afetar outros órgãos do corpo. Se o mesmo remédio fosse administrado por via oral ou na veia, seriam necessárias doses muito maiores, aumentando o risco de efeitos colaterais graves. Assim, a injeção intravítrea é uma forma segura e eficiente de tratar doenças oculares específicas.
Além disso, a aplicação local reduz o risco de complicações sistêmicas, como pressão alta, problemas renais ou sangramentos, que poderiam ocorrer com doses elevadas de medicamentos circulando pelo corpo.
O tratamento é definitivo?
É importante entender que as injeções intravítreas não curam definitivamente as doenças da retina. Elas controlam a evolução da doença e preservam a visão, mas não eliminam a causa subjacente. Por exemplo, quem tem retinopatia diabética continuará tendo diabetes e precisará de acompanhamento contínuo. O mesmo vale para degeneração macular e outras condições crônicas.
Assim como em outras doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes, o tratamento é de longo prazo e pode exigir aplicações periódicas, conforme a resposta do paciente.
Como funciona o protocolo "tratar e estender"?
O protocolo mais utilizado atualmente é o chamado "tratar e estender". Inicialmente, são realizadas três a quatro injeções mensais, conhecidas como fase de carga. Após essa fase, o paciente é reavaliado com exames de imagem, principalmente a tomografia de coerência óptica (OCT), para verificar a resposta ao tratamento.
Se houver melhora significativa, os intervalos entre as aplicações podem ser gradualmente aumentados, geralmente de 15 em 15 dias ou de mês em mês. Por exemplo, após as primeiras três injeções mensais, o próximo intervalo pode ser de 45 dias, depois 60, 90, e assim por diante. Caso a doença volte a progredir, o intervalo é reduzido novamente.
Esse protocolo permite adaptar o tratamento à resposta individual de cada paciente, otimizando os resultados e minimizando o número de aplicações necessárias.
Quais são os cuidados antes e depois da injeção?
Antes da injeção, não é necessário jejum ou preparo especial. O paciente deve comparecer ao consultório com o rosto limpo, evitando maquiagem ou cremes ao redor dos olhos. Após o procedimento, é comum sentir leve irritação, sensação de areia ou vermelhidão no olho. Esses sintomas costumam melhorar em poucos dias.
Algumas recomendações importantes após a injeção incluem:
Evitar coçar ou esfregar os olhos
Não entrar em piscinas ou águas potencialmente contaminadas por pelo menos uma semana
Evitar atividades físicas intensas nas primeiras 24 horas
Descansar e, se possível, dormir nas primeiras horas após o procedimento
Retomar esportes leves após 3 a 4 dias, exceto natação
Se houver piora da dor, aumento da vermelhidão, diminuição da visão ou secreção ocular após alguns dias, é fundamental procurar o oftalmologista imediatamente, pois pode ser sinal de infecção ou inflamação.
Quais são os riscos e efeitos colaterais?
O procedimento é considerado seguro, mas, como qualquer intervenção médica, apresenta riscos. Os efeitos colaterais mais comuns são irritação, sensação de corpo estranho e vermelhidão, que geralmente desaparecem em poucos dias. Pequenas hemorragias na parte branca do olho (conjuntiva) podem ocorrer, mas não afetam a visão e se resolvem espontaneamente.
A complicação mais temida é a infecção intraocular (endoftalmite), que é rara, ocorrendo em cerca de 1 a cada 10.000 injeções. Por isso, é essencial seguir as orientações de higiene e comunicar imediatamente qualquer sintoma anormal após o procedimento.
Outros riscos extremamente raros incluem descolamento de retina, aumento da pressão intraocular e inflamação. O acompanhamento regular com o oftalmologista é fundamental para detectar e tratar precocemente qualquer complicação.
Quantas injeções são necessárias?
O número de injeções varia de acordo com a doença, gravidade e resposta individual ao tratamento. Em geral, a maioria dos pacientes precisa de várias aplicações ao longo do tempo, especialmente nos primeiros meses. Alguns casos leves podem responder bem com poucas injeções, enquanto outros exigem tratamento prolongado.
O importante é manter o acompanhamento regular e seguir o protocolo estabelecido pelo seu oftalmologista, pois a adesão ao tratamento está diretamente relacionada ao sucesso na preservação da visão.
O procedimento dói? Precisa de anestesia?
A maioria dos pacientes relata apenas um leve desconforto ou sensação de pressão durante a aplicação. O uso de colírios anestésicos torna o procedimento praticamente indolor. Não é necessária anestesia geral ou sedação, exceto em casos de pacientes muito ansiosos, o que é raro.
O procedimento é rápido, durando poucos minutos, e não requer internação. Após a aplicação, o paciente pode retornar para casa e retomar as atividades leves no mesmo dia.
Como é a recuperação após a injeção?
É comum sentir o olho um pouco irritado, com sensação de areia ou leve vermelhidão nas primeiras horas após a injeção. Esses sintomas tendem a melhorar rapidamente. Se houver uma pequena mancha de sangue na parte branca do olho, não se assuste: ela é inofensiva e desaparece em até duas semanas.
Durante a recuperação, recomenda-se evitar esforços físicos intensos, exposição a ambientes contaminados e contato com água de piscina ou mar. Se sentir desconforto, faça pausas, descanse e evite o uso excessivo de telas, como celular e computador, nas primeiras 24 horas.
Caso perceba piora dos sintomas após alguns dias, como dor intensa, vermelhidão acentuada ou diminuição da visão, procure imediatamente seu médico.
Importância do acompanhamento e adesão ao tratamento
O sucesso do tratamento com injeções intravítreas depende, em grande parte, da adesão do paciente ao protocolo estabelecido. Atrasos nas aplicações ou faltas às consultas podem comprometer o controle da doença e levar à piora da visão. Estudos mostram que pacientes que seguem corretamente o tratamento apresentam melhores resultados visuais a longo prazo.
Mantenha sempre o contato com sua equipe médica, esclareça dúvidas e informe qualquer sintoma novo. O acompanhamento regular, com exames de imagem e avaliação clínica, é fundamental para ajustar o tratamento conforme a evolução da doença.
Considerações finais e orientações para o paciente
As injeções intravítreas representam um dos maiores avanços da oftalmologia moderna, permitindo tratar doenças que antes levavam à cegueira. Embora o nome possa assustar, trata-se de um procedimento seguro, eficaz e realizado de forma rápida e confortável. Seguir as orientações do seu oftalmologista, comparecer às consultas e manter o tratamento são atitudes essenciais para preservar sua visão.
Lembre-se: cada caso é único, e o plano de tratamento deve ser individualizado. Não hesite em tirar dúvidas com sua equipe médica e informe qualquer alteração nos sintomas. O objetivo é garantir a melhor qualidade de vida possível, com visão preservada e saúde ocular em dia.
Estamos juntos nessa jornada para cuidar da sua visão. Siga sempre as recomendações do seu médico e mantenha-se informado sobre as novidades do tratamento. Caso precise de mais informações, procure seu oftalmologista de confiança.
Autor: Dr. Mário César Bulla
Cremers 28120
Médico Oftalmologista - Retinólogo
RQE 18.706